
por G. K. Chesterton — 02/12/1911 — The Illustrated London News
A sátira enfraqueceu em nossa época por várias razões, mas sobretudo, creio eu, porque o mundo se tornou absurdo demais para ser satirizado. Deve haver certa dignidade no objeto de uma caricatura; entre nós, os fatos antecipam os caricaturistas. Se a Royal Society no tempo de Swift realmente estivesse tentando extrair raios de sol de pepinos, Swift teria se visto frustrado em seu relato de Laputa, e estaria furioso. Se a célebre prova de que os narizes foram feitos para óculos tivesse ocorrido de fato, ela não poderia ter ocorrido em Cândido. Se alguma edição do Lancet no tempo da rainha Ana realmente contivesse o parágrafo “Um paciente do Hospital St. Thomas acaba de morrer de uma rosa, em um ataque agudo de dor aromática”, é claro que o pobre poeta Pope teria sido roubado de um de seus versos mais poéticos. Pode-se fazer coisas solenes parecerem ridículas; esse é todo o negócio da sátira. Mas se as coisas escolhem ser ridículas, e nada além de ridículas, a única resposta é o silêncio. É impossível caricaturar aquilo que já se caricatura a si mesmo.
Ora, há coisas feitas, ditas e noticiadas diariamente nos jornais que são tão absurdas quanto qualquer uma dessas. Os cientistas que dançam à espera da Abiogênese ou da Quarta Dimensão são tão cômicos quanto os sábios de Swift com seus pepinos. O evolucionista que diz que pode acreditar em um Propósito nas coisas, mas não pode acreditar em um Desenho nas coisas, fala um absurdo muito mais desesperador do que o pobre Pangloss quando dizia que os narizes foram feitos para óculos. E muitos parágrafos, literalmente tão ridículos quanto o do homem que morre de uma rosa em dor aromática, podem ser lidos dia após dia na imprensa comum. Aqui está um exemplo. Encontrei uma frase (não posso evitar este verbo infeliz, já que ele indica um cuidado extático) em um jornal excelente.
O jornal afirmava que certos conselhos de tutores vinham tentando “desmamar as velhas do asilo do rapé”. Isso é impossível de exagerar. O mais desumano dos cidadãos pode zombar do idiota da aldeia, mas não pode vencê-lo em seu próprio ofício. Não pode ser mais idiota que o idiota. E se Swift e Voltaire voltassem ao mundo, não conseguiriam inventar frase mais engraçada do que essa: desmamar velhas do rapé. A expressão é perfeita em cada sílaba; não há elo fraco nessa cadeia. A palavra “desmamar” é a melhor piada que ouvi em anos. A ideia de desmamar velhas de qualquer coisa é digna de Swift em seu pior momento. A ideia de desmamar alguém do rapé, como se fosse alguma tirania gigantesca, tem uma ironia violenta que ultrapassa Voltaire.
Esses absurdos Tutores realmente discutiram por longo tempo, com ponderosos prós e contras, se o rapé deveria ser permitido àquelas pobres velhas ruínas de maus-tratos e infortúnio. Quem são as pessoas que conseguem pronunciar a palavra “rapé” solenemente? De que madeira ou pedra são feitos aqueles que conseguem dizer “rapé” em voz profunda, responsável, vibrante, como diriam “pecado”? Experimentei por horas. Tranquei-me no meu quarto e disse “rapé” em todos os tons de voz, e ainda assim não consigo imaginar um grupo considerável de homens e mulheres sensatos se dando ao trabalho de discutir a coisa. Pense em todas as coisas que poderiam ser discutidas por tutores da Lei dos Pobres, sejam eles tutores da lei ou, como às vezes acontece, dos pobres. Pense no que poderiam discutir. E perceba que o que de fato discutem é o Pecado do Rapé.
Há no mundo apenas muito poucos para quem o rapé é importante, e são justamente esses poucos dos quais ele será tirado. O rapé não é pólvora que possa explodir o Parlamento, mas pode dar um conforto inocente em meio às condições horríveis do asilo. É um exemplo perfeito daquilo que os pobres realmente poderiam desfrutar, e que os ricos realmente poderiam deixar em paz. É pequeno demais para a denúncia dos príncipes, e ainda assim grande demais para a renúncia dos indigentes. Algo assim, imagina-se, poderia certamente ser deixado em paz.
Já era ruim quando a moralidade excêntrica dos milionários proibiu o antigo Church Ale e o Christmas Ale que eram dados aos pobres. Ninguém que age oficialmente tem o direito de impor sua moral privada ao Estado, porque, sendo um oficial comum, deve impor apenas a moral comum. Church Ales e Christmas Ales eram dados quando todos os ingleses criam no Natal e nas Igrejas. Eram dados antes da conversão da Inglaterra a partir do Cristianismo. Contudo, admito sempre (pois embora ninguém acredite, gosto de ser justo) que há uma enorme tragédia humana ligada à bebida, que a torna diferente de outros prazeres. Homens foram desumanizados pela bebida; homens cometeram assassinato por um copo a mais. Mas ninguém jamais foi desumanizado pelo rapé. E ninguém jamais planejou um assassinato após uma pitada extra. Ai de nós. Não se pode ser desumanizado pelo rapé, mas pode-se ser desumanizado proibindo-o.
A farsa franca da coisa é evidente. É evidente a qualquer um que possua os elementos daquela ironia instintiva com que se aprecia uma farsa. Obviamente, seria mais sensato obrigar velhas a aprender balé do que fazê-las desaprender o rapé. Todo aquele que conviveu com mínima simpatia pelos semelhantes sabe que os muito velhos têm hábitos que, mesmo quando ruins, talvez seja mais seguro suportar do que destruir. Ninguém tenta desmamar seu avô Major do hábito de fumar charutos. Ninguém tenta desmamar seu tio-bisavô, o Esquire, do hábito de praguejar. Se você ou eu sugeríssemos que o Major e o Esquire fossem desmamados de beber cerveja ou fumar tabaco, toda a família diria que somos loucos. O que diriam se incluíssemos o rapé nisso não consigo conceber. Contudo, isso é imposto aos muito pobres simplesmente porque são muito pobres, e por nenhum outro pretexto defensável.
Há dois fatos claros que tornam esse tipo de coisa simultaneamente idiota e detestável. O primeiro é que, com pessoas idosas, de todas as pessoas do mundo, não deveríamos insistir em hábitos higiênicos. Pode-se afirmar que uma nova geração pode crescer vigorosa com novos costumes de alimentação ou exercício. Pode-se alegar que os jovens cavaleiros que seguiram o Príncipe Negro em Poitiers viviam todos de cacau; pode-se alegar que os recrutas que sustentaram as linhas em Waterloo foram todos alimentados pelo Sr. Eustace Miles. Porém, é evidente que não devemos impor tal pressão higiênica aos velhos. Eles têm pouco tempo de vida de qualquer forma, e seu tempo provavelmente dependerá mais de seu próprio conforto e hábito do que da teoria de alguém sobre uma dieta perfeitamente saudável desde o início. Um idoso indigente não pode matar-se com rapé. É possível, inclusive, que realmente morra por falta dele.
A outra questão é esta: em nenhum lugar é tão perverso negar pequenos prazeres quanto em um asilo, embora isso seja perverso em qualquer lugar. O argumento contra dar um copo de cerveja a um andarilho é que ele pode continuar a beber outros copos e ser encontrado em uma vala. Mas qual seria o argumento contra dar-lhe uma pitada de rapé? Não consigo imaginar. Em um asilo você pode dar-lhe exatamente a quantidade de cerveja ou rapé que quiser, e pode ter certeza absoluta de que não haverá excesso. Resta apenas uma diabólica aversão à cerveja ou ao rapé como tais. Se você nega algo tão pequeno quanto o rapé a indigentes que só podem ter o rapé que você lhes dá, deve querer uma de duas coisas: ou odeia o rapé, o que é quase inconcebível, ou, mais provavelmente, odeia os indigentes.
Infelizmente, no Brasil, o rapé costuma ser vendido em estado bruto, apenas fumo picado — e, em muitos casos, é praticamente inutilizável devido à irritação que causa. Diferente disso, nossos rapés são verdadeiramente aveludados, aromáticos e elaborados com ingredientes naturais, sem adição de pós artificiais. Cada mistura é produzida seguindo as receitas mais tradicionais da Europa e das Américas, preservando a arte e a sofisticação do verdadeiro rapé clássico.